Tarô: Ferramenta de Autoconhecimento ou Misticismo?

Descubra como o tarô evoluiu para ser o que é hoje e como ele pode ajudar você a refletir sobre padrões internos, decisões e emoções, sem deixar de lado suas crenças e focando em uma abordagem questionadora e acessível. Se você está em busca de uma visão mais abrangente e autêntica da arte do tarô, este artigo é um convite para explorar o baralho mais consciente de sua historia e possibilidades. Tire suas próprias conclusões.

Místico Cético

10/26/20245 min read

Em primeiro lugar, gostaria de esclarecer que meu objetivo com este texto não é separar o tarô de seu componente místico e transcendental, mas sim criar uma base de conhecimento para que você possa se conectar com essa ferramenta tão profunda, partindo de sua própria visão de mundo e espiritualidade.

Pensando nisso, trouxe uma série de pontos que, a meu ver, irão ajudá-lo a mergulhar fundo nesse mundo simbólico sem abrir mão do que você acredita. Não se esqueça de compartilhar comigo seus insights a respeito do assunto! Ficarei muito feliz em criar essa ponte com você! Boa leitura!

Tarô na Idade das Trevas

A história dos arcanos do tarô, com seus quatro naipes e 22 "trunfos", foi borrada pelo tempo. Muito antes da era medieval -período em que começam a surgir registros de um jogo de cartas semelhante ao tarô moderno-, podemos encontrar menções do que seria um "jogo de cartas" por volta do século IX, na região do norte da África.

Esses registros podem sugerir que os trunfos e as cartas numeradas (ou arcanos maiores e menores) surgiram separadamente e foram unidos posteriormente.

Algo que também é questionado é o verdadeiro significado e a utilidade das figuras principais medievais. Sabemos que, nesse período, qualquer conhecimento que extrapolasse o dogma católico dentro da sociedade europeia poderia ser considerado herético.

Esse fato, combinado com a riqueza de símbolos universais e arquetípicos, pode nos levar a crer que, desde o princípio, as figuras do tarô possuíam informações ocultas transmitidas por aquilo que parecia ser um simples jogo, mas que, na verdade, era rico em significados e ensinamentos para aqueles que possuíam o conhecimento necessário.

O Renascimento e a volta dos deuses gregos

Hoje sabemos que o período medieval conteve o desenvolvimento intelectual e artístico, e é por volta do século XV que a Santa Inquisição começa a consolidar seu poder no território italiano.

Ao mesmo tempo, a influência da Igreja começa a ser desafiada, permitindo o ressurgimento do passado clássico e da cultura pagã, especialmente de origem grega, com toda sua riqueza simbólica. Nesse contexto, começam a surgir as primeiras ligações entre o que inicialmente parecia ser apenas um jogo e um universo profundo de significados e reflexões.

É bem possível que a função adivinhatória do tarô tenha emergido também nesse período, já que o mundo clássico foi profundamente influenciado — e até moldado — por oráculos históricos, como o famoso Oráculo de Delfos.

Longe da censura da Igreja, as famílias reais e seus príncipes mecenas voltam-se para grandes mestres e intelectuais da época. Isso abriu espaço para novas reflexões humanistas e facilitou a rápida difusão dos jogos de cartas por toda a Europa, incluindo o tarô, que carregava consigo esse rico simbolismo.

Místicos e Intelectuais: O aprofundamento da simbologia.

Do século XIX até o início do XX, houve um período de intenso florescimento intelectual e místico, marcado pela interseção entre esoterismo, psicologia e filosofia. O tarô, como objeto de estudo, tornou-se cada vez mais relevante à medida que se buscava entender suas simbologias e aplicações. A seguir, estão alguns dos principais intelectuais e místicos que contribuíram para o estudo do tarô antes da obra de Carl Gustav Jung:

  1. Antoine Court de Gébelin (1719–1784)

    Obra: Le Monde Primitif, Analysé et Comparé avec le Monde Moderne (1773–1782)

    Contribuição: Um dos primeiros a sugerir que o tarô tinha origens antigas e ocultas. Em Le Monde Primitif, Gébelin alegou que o tarô era um livro esotérico egípcio que sobreviveu na forma de cartas, contendo a sabedoria esotérica da Antiguidade. Embora essa teoria tenha popularizado o tarô no contexto esotérico, era historicamente incorret

  2. Éliphas Lévi (1810–1875)

    Obras: Dogme et Rituel de la Haute Magie (1854), Histoire de la Magie (1860)

    Contribuição: Lévi foi crucial ao associar o tarô ao ocultismo, vinculando as cartas ao alfabeto hebraico, à Cabala e à numerologia. Ele foi o primeiro a relacionar as 22 cartas dos Arcanos Maiores com as 22 letras do alfabeto hebraico, estabelecendo uma conexão entre as cartas e o desenvolvimento espiritual e psíquico.

  3. Papus (Gérard Encausse) (1865–1916)

    • Obra: Le Tarot des Bohémiens (1889)

    • Contribuição: Papus desenvolveu um sistema de leitura do tarô profundamente influenciado pela Cabala e pela numerologia, apresentando o tarô como um livro simbólico da vida e da evolução espiritual. Ele ajudou a consolidar o tarô como uma ferramenta de autoconhecimento e consulta espiritual, ligando-o às tradições ocultistas.

  4. Oswald Wirth (1860–1943)

    • Obra: Le Tarot des Imagiers du Moyen Âge (1926)

    • Contribuição: Wirth criou seu próprio baralho de tarô, baseado nas tradições esotéricas medievais e cabalísticas. Ele via o tarô como uma síntese de várias tradições místicas e filosóficas, influenciando a abordagem visual e simbólica, especialmente em relação aos Arcanos Maiores.

  5. Arthur Edward Waite (1857–1942)

    Obra: The Pictorial Key to the Tarot (1910)

    Contribuição: Waite é conhecido por criar, junto com a artista Pamela Colman Smith, o baralho Rider-Waite, um dos mais utilizados até hoje. Sua obra oferece uma interpretação detalhada dos significados simbólicos das cartas e uma visão mais sistemática da leitura do tarô, afastando-o de associações diretas com magia.

  6. Aleister Crowley (1875–1947)

    Obra: The Book of Thoth (1944)

    Contribuição: Crowley criou, junto com a artista Lady Frieda Harris, o Tarô de Thoth, uma visão mística e simbólica profundamente enraizada na magia cerimonial e nas filosofias ocultas. Seu sistema envolve astrologia, numerologia e Cabala, com forte influência de sua própria filosofia ocultista.

  7. Carl Gustav Jung (1875–1961)

    Contribuição: Embora Jung não tenha escrito uma obra específica sobre o tarô, ele mencionou o tarô em suas obras sobre psicologia arquetípica e símbolos. Jung via o tarô como uma representação dos arquétipos do inconsciente coletivo e um meio para a autoexploração, menos focado na prática ocultista e mais na compreensão psicológica.

Esses pensadores moldaram o estudo do tarô de maneiras diversas, desde suas associações com o ocultismo (Gébelin, Lévi, Papus) até uma visão mais psicológica e simbólica (Jung). Cada autor adicionou uma nova camada de significado ao tarô, ampliando seu uso como ferramenta espiritual, psicológica e filosófica.

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